
Quem será o pecador que atormenta o destino do Homem?
Seremos nós o nosso verdadeiro mal?
Nada somos senão uma reflexão dos nossos próprios atos. Somos um espelho baço do que transparecemos, uma imagem turva do que realmente nos conhecemos.
Na verdade existimos muito para além do que olhamos no espelho, muito mais do que sabemos conscientemente que somos.
Tentem olhar no espelho, mas não da maneira comum. Não apenas para o que este reflete de imediato, mas sim para cada detalhe que nos escapa. Sintam a solidão sem estarem sós. sintam-se apenas na companhia de vocês mesmos, das memórias boas e más, das virtudes e dos defeitos, transportem-se ao amago do vosso ser profundo.
Façam-no sem medo, sem delinear um limite, simplesmente viagem dentro de vós. Sem nada nos bolsos, sem identidade ou moralidade. Apenas nus, despidos de qualquer preconceito induzido, simplesmente planos como uma pagina vazia.
Se o fizerem, se partirem nesta viagem aos cantos mais recônditos descobriram o verdadeiro inimigo da Humanidade. Verão que os sentidos toldaram a nossa mente, protegendo-a de nós próprios, aprisionando-a num corpo e numa imagem social aceite a olhares alheios. O futuro reside nas mãos daquele que não se prende a si mesmo, mas sim daquele que se vê no espelho reconhecendo cada defeito, cada virtude e que mesmo assim tem a coragem de continuar a ser ele próprio.